De acordo com a estilística, a sinestesia pode ser
conceituada como o cruzamento de sensações ou a associação de palavras/expressões
em que ocorre a combinação de sensações diferentes em uma só impressão.
Tendo
em vista essa definição, a obra de Andressa Marcondes não apenas faz jus ao
título, mas expande a própria concepção de experiência sensorial. Em suas mais
de setenta páginas, o livro promove o cruzamento de palavras e a associação de
sensações por meio de imagens e letras, assim como através de seus contornos,
suas sombras e seus vazios. Afinal, a ausência também tem o seu discurso e a sua
estética.
Essa
pluralidade semiótica cria um caleidoscópio de cores e formas que, ao enfatizar
a singularidade das impressões do leitor-espectador, plulariza os sentidos e as
possibilidades de experiência. Com isso, os ritmos de leitura podem assumir
compassos diferentes, que podem variar desde a imersão contemplativa até a
reflexão crítica. Esmiuçar cada detalhe do tempo congelado em cada fotografia
pode demandar tanta concentração quanto buscar as reverberações de cada verso.
Ao
contrário dos livros ilustrados, gênero suporte para o desenvolvimento da
capacidade ledora, a obra Sinestesia
não sobrepõe texto e imagem, o que poderia redundar em verborragia kitsch, mas amplia, pelo efeito de integração,
os significados que se entrecruzam nos limites das duas linguagens. Quando o
verbo falta, a cena responde. Quando a cena se entrega ao caos da visão do momento,
o verbo organiza. Com isso, certo caráter pedagógico dos textos com ilustrações
se mantém, já que o leitor deve rearticular e pluralizar seus modos de leitura
a cada nova página. E se a próxima página deixa vista embaçada, a imaginação
ocupa o seu lugar e devaneia pelos traços do que poderia estar lá. E se a
palavra grita silêncio, o eco assusta as pombas que tentam escapar do quadro
seguinte.
Poemas,
pensamentos e gestos são a matéria-prima da obra e a sensibilidade na
organização desses elementos sua forma de expressão. Por conta dessa dinâmica,
o público leitor de Sinestesia é tão
vasto e variado quanto o seu potencial de significação. Notívagos,
madrugadores, poetas, fotógrafos, músicos, transeuntes e motoristas. Assim como
os espaços públicos capturados pela lente e pela letra, a obra está aberta para
todos os olhares e todas as particularizações.
Diante
de todos esses apontamentos, considero que a publicação da obra Sinestesia é não apenas desejável, mas também
necessária. Em tempos nos quais o instântaneo e o fugaz regulam gestos e gostos, capturar o
instante e refletir sobre ele representa um movimento de redescoberta da nossa
própria capacidade de sentir.
Professor Dr. Evanir Pavloski
Conselho Editorial
Texto e Contexto Editora