segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Texto de apresentação

A poesia sela as cores da fotografia neste primeiro livro de Andressa Marcondes; serve para grifar as emoções dos olhos das pessoas fotografadas. Ao acompanhar o movimento das linhas da foto, a poesia mostra que entende de enquadramento e técnica, de perspectiva e de proximidade, que a palavra é capaz de compor a atmosfera da memória da mesma forma que imagem.

Algumas fotos publicadas neste livro fizeram parte de pesquisas acadêmicas que evidenciaram a capacidade da fotografia de captar expressões de ocupação do espaço público. Há, também, um tipo de registro emocional. As imagens de Sinestesia mostram mais atmosferas do que lugares, mais gerações do que datas ou acontecimentos exatos.

Andressa Marcondes compõe esses registros para se apropriar do objeto fotografado como escreve a ensaísta Susan Sontag, mas, também, para manter viva a memória da juventude, colecionar pedaços de um mundo para o qual outros fotógrafos já não olham. Ela está mais próxima da ocupação da cidade que já faziam Vivan Mayer e Diane Arbus. Aqui, a fotografia não quer evidenciar detalhes técnicos bem colocados, quer fazer olhar para dentro, estimular nosso sentido de pertencimento ao Tempo.

Há registros de shows, mas nenhuma banda aparece. Os olhos da autora se interessam por quem está abaixo do palco e à margem dele. Depois que um show acaba, por que alguém ainda fica? Porque há outro círculo e outra magia para além do show, além da vida rotineira da cidade: são as relações retratadas em sua essência, sem holofote e sem produção.


Gisele Barão

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