segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Parecer Supervisor

De acordo com a estilística, a sinestesia pode ser conceituada como o cruzamento de sensações ou a associação de palavras/expressões em que ocorre a combinação de sensações diferentes em uma só impressão.

Tendo em vista essa definição, a obra de Andressa Marcondes não apenas faz jus ao título, mas expande a própria concepção de experiência sensorial. Em suas mais de setenta páginas, o livro promove o cruzamento de palavras e a associação de sensações por meio de imagens e letras, assim como através de seus contornos, suas sombras e seus vazios. Afinal, a ausência também tem o seu discurso e a sua estética.

Essa pluralidade semiótica cria um caleidoscópio de cores e formas que, ao enfatizar a singularidade das impressões do leitor-espectador, plulariza os sentidos e as possibilidades de experiência. Com isso, os ritmos de leitura podem assumir compassos diferentes, que podem variar desde a imersão contemplativa até a reflexão crítica. Esmiuçar cada detalhe do tempo congelado em cada fotografia pode demandar tanta concentração quanto buscar as reverberações de cada verso.

Ao contrário dos livros ilustrados, gênero suporte para o desenvolvimento da capacidade ledora, a obra Sinestesia não sobrepõe texto e imagem, o que poderia redundar em verborragia kitsch, mas amplia, pelo efeito de integração, os significados que se entrecruzam nos limites das duas linguagens. Quando o verbo falta, a cena responde. Quando a cena se entrega ao caos da visão do momento, o verbo organiza. Com isso, certo caráter pedagógico dos textos com ilustrações se mantém, já que o leitor deve rearticular e pluralizar seus modos de leitura a cada nova página. E se a próxima página deixa vista embaçada, a imaginação ocupa o seu lugar e devaneia pelos traços do que poderia estar lá. E se a palavra grita silêncio, o eco assusta as pombas que tentam escapar do quadro seguinte.

Poemas, pensamentos e gestos são a matéria-prima da obra e a sensibilidade na organização desses elementos sua forma de expressão. Por conta dessa dinâmica, o público leitor de Sinestesia é tão vasto e variado quanto o seu potencial de significação. Notívagos, madrugadores, poetas, fotógrafos, músicos, transeuntes e motoristas. Assim como os espaços públicos capturados pela lente e pela letra, a obra está aberta para todos os olhares e todas as particularizações.

Diante de todos esses apontamentos, considero que a publicação da obra Sinestesia é não apenas desejável, mas também necessária. Em tempos nos quais o instântaneo  e o fugaz regulam gestos e gostos, capturar o instante e refletir sobre ele representa um movimento de redescoberta da nossa própria capacidade de sentir.



Professor Dr. Evanir Pavloski
Conselho Editorial
Texto e Contexto Editora

Nenhum comentário:

Postar um comentário